encontro emocionado

Um ano depois de se instalar em Santa Maria, refugiado venezuelano reencontra a mulher e o filho

Gabriela Perufo

Foto: Renan Mattos (Diário)
Família se reencontrou na última terça-feira em Santa Maria

Um ano e quase três meses depois de deixar seu país em busca de um futuro para a família, o venezuelano Hector Horangel, 32 anos, conseguiu reencontrar a mulher, Mery Rivero, 31, e o filho Hector Rafael, 11, na rodoviária de Santa Maria. Mãe e filho saíram de La Victoria - pequena cidade a 60 quilômetros da capital, Caracas - com ajuda financeira de amigos e empresários de Santa Maria, que ficaram sensibilizados com a história da família.

Quando decidiu deixar a Venezuela para fugir da crise que assola o país, Hector trabalhava em uma refinaria de açúcar na parte de manutenção mecânica das máquinas e, segundo ele, ganhava o suficiente para sustentar a família. A mulher fazia faculdade, um curso equivalente ao de Engenharia de Produção, e o filho frequentava a escola e jogava beisebol. Com a crise econômica, o dinheiro encurtou e o que ele ganhava já não dava mais para se manter lá. No dia 17 de julho do ano passado, Hector saiu de sua cidade natal e começou uma jornada árdua até parar, por acaso, em Santa Maria. Foi aqui que ele fez amigos e conheceu pessoas que o ajudaram a recomeçar.

- Meu filho jogava beisebol há quatro anos. O dia em que ele precisou de uma chuteira nova e eu não tinha dinheiro para comprar, me dei conta da nossa situação. Já não tinha mais condições de manter a minha família. Não planejamos muito, eu vendi a moto que tinha por cerca de 1,5 bolívares (moeda da época no país. Se fosse na moeda que entrou em vigor em agosto deste ano após novo plano econômico, esse valor corresponderia a cerca de R$ 94) e vim. Os dois ficaram na porta de casa chorando quando eu parti e pedindo para que eu não saísse - conta Hector. 

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O plano dele era deixar a Venezuela e ir até a Argentina, onde um amigo o receberia e o ajudaria a procurar emprego. O idioma também ajudou na escolha. Como não tinha dinheiro para comprar passagem aérea, viria de ônibus. Mas perdeu parte do que a venda da motocicleta tinha lhe rendido:      

- A polícia em meu país é muito corrupta. À noite, eles paravam o ônibus e pegavam nosso dinheiro. Aí, comecei a pegar carona, a pedir dinheiro e fui viajando como dava. Entrei no Brasil pelo Acre e consegui chegar em Porto Alegre. Lá, pedia dinheiro na rodoviária onde passava o dia. À noite, eu ia para o aeroporto para poder dormir. Eu não falava nada de português, mas conheci um surfista uruguaio, que falava em espanhol comigo e sabia falar e escrever português. Ele escreveu esse papel (na foto ao lado, Hector mostrou uma espécie de carta, contando brevemente sua história em português, que ele mostrava às pessoas para pedir dinheiro) que eu guardo até hoje. 

Hector conta que carregava o número do celular da esposa em um papel e abordava pessoas na rodoviária e no aeroporto e pedia para emprestarem seus celulares. Ele usava os celulares apenas para enviar mensagens do tipo "está tudo bem comigo" para que ela não ficasse preocupada. 

O dinheiro que conseguiu pedindo dinheiro pela rua foi suficiente para comprar uma passagem até Santa Maria. A ideia era que, aqui, ele seguisse pedindo dinheiro até chegar na Argentina. Foram 14 dias de viagem até pisar em solo santa-mariense.

- Cheguei aqui e vi que na rodoviária não tinha tanto movimento de pessoas como em Porto Alegre. Como é que eu ia pedir dinheiro? Enchi duas pets de água e saí caminhando. Parei em uma telemoto e pedi para me ensinarem como ir até Uruguaiana (cidade que faz fronteira com Paso de los Libres, na Argentina). Um cara desenhou um mapa para mim e fui caminhando pela Faixa de Rosário. Uma caminhonete parou porque o motorista ficou sem gasolina. Eu achei que era para me dar carona e corri até ele. No fim das contas, ele me levou até a chácara dele, perto dali, eu tomei banho, ganhei comida e passei a noite. A casa dele foi o primeiro lugar onde morei no Brasil. 

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O anfitrião comprou passagem para que ele fosse até a Argentina, país onde até então, planejava ser seu novo lar. Chegando lá, Hector encontrou dificuldades em arrumar emprego e encaminhar a documentação para se regularizar no país. Ligou para o santa-mariense que o acolheu e voltou a Santa Maria. Hector conta que aqui, em Santa Maria, conseguiu encaminhar documentação: CPF, RG e Carteira de Trabalho. Trabalhava fazendo "bicos" com um amigo que atua com prestação de serviços e conheceu Joel Tavares Dias, proprietário da Perfect Clean. Há seis meses, ele trabalha como serviços gerais na empresa de Joel que, aos poucos, conheceu a história de Hector e resolveu fazer algo para ajudar.  




Foto: Garupa
Mary e Hector Rafael chegaram em Porto Alegre na noite de segunda-feira

UMA NOITE DE ESPERA E EMOÇÃO
Joel e Alan Ferigolo, dono do Autoposto Neo, também se uniram para comprar a passagem dos familiares de Hector. Na noite da última segunda-feira, mulher e filho desembarcaram em Porto Alegre. A preocupação de Hector era que os dois tivessem uma viagem tranquila, ao contrário do que ele passou para chegar até aqui. O serviços gerais queria ir a Porto Alegre buscar os dois, mas o gasto com as passagens seria grande. Foi então que Thiago Fogaça, gerente comercial do Garupa em Santa Maria, e Ariane Quadros, que trabalha no administrativo da empresa, entraram em ação. Um Garupa de Porto Alegre buscou os dois, na noite de segunda-feira, no aeroporto Salgado Filho e os levou até a estação rodoviária de Porto Alegre. Lá, ajudou eles, que ainda não sabem falar português, a retirar as passagens e os levou até a porta do ônibus.    

- Foi a noite mais longa da minha vida, eu não dormi nada. Às 5h, eu já estava na rodoviária e sabia que eles só iam chegar às 6h. Quando vi eles saírem do ônibus, o meu coração acelerou. Foi a maior alegria da minha vida estar nós três juntos. Agora, com a família mais perto, tenho mais força para ir adiante, poder sustentar meu filho e a minha mulher. Espero que meu filho possa se formar na universidade, eu quero falar português fluente, ser bilingue. As pessoas nem sempre sabem que podendo sustentar sua família já têm tudo que precisam e não dão valor. Tudo que eu fiz é sempre para eles, são tudo para mim

EM SANTA MARIA
Com a ajuda do chefe e de outros empresários, Hector ganhou móveis: cama, fogão, micro-ondas. Ele mora em um hotel, em Santa Maria, onde ganhou mais espaço para viver com a mulher e filho até o final do ano. Depois, deve ir para uma casa que pertence a Joel. O plano, agora, é encaminhar a documentação para mulher e filho. Na Venezuela, o ano escolar começa em setembro e a criança iria para o 6º ano. No ano que vem, ele deve estar matriculado em uma escola no Brasil.

A preocupação da família e dos empresários que os ajudam é que a mulher e a criança tenham suporte para aprender português. Ela, para que consiga ter um emprego no futuro, e a criança para que chegue na escola sem dificuldades com o idioma. Eles ainda não têm conhecimento se existe alguma escola com trabalho voltado para alunos refugiados. Se alguém quiser ajudar com aulas de português pode entrar em contato com Joel pelo telefone (55) 99976-6965.

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